explorando novas cores em nova vida

Decidir o que fazer com o resto da sua vida aos 18 anos não é fácil, mas é o dever de todo mundo. Comigo não aconteceu. Eu queria teatro, mas nos últimos seis meses do terceiro ano minha família me convenceu a escolher algo mais tradicional. Fiz um ano de cursinho, um ano de faculdade de química, um ano de faculdade de Relações Internacionais e finalmente escolhi Direito

Entrei numa universidade pública e senti que estava fazendo o sacrifício necessário para ser amada por aqueles que cuidam de mim desde que nasci. Nunca me encaixei na faculdade, e em longos seis semestre minhas notas se mantiveram ao custo da minha saúde mental: tinha cada vez mais episódios de ansiedade e depressão e minha vontade de viver se esvazia dia após dia. Eventualmente a minha ansiedade piorou tanto que s se tornou física.

Uma dor crônica que eu tinha desde adolescente por causa de um problema nas costas piorou e os médicos me disseram que a única resposta possível era estresse. Minha dor era psicossomática, eu precisava aprender a viver com calma ou continuar sofrendo. Vivi a base de dipirona por um tempo, mas não consegui ficar mais do que meia hora parada antes de querer chorar de dor. Eventualmente eu comecei a inclusive acordar assim, mesmo caminhando para a aula eu sentia minhas costas ardendo e eu chorava de desespero, dor e pânico pelo futuro, achando que eu ia ter que eventualmente aprender a viver com isso.

Eu sempre estive disposta a abrir mão de felicidade na minha vida acadêmica e profissional para ter estabilidade financeira e poder receber sorrisos de orgulho toda vez que falava para a minha família sobre a faculdade. Mas depois de 3 anos de Direito com dor dia sim e dia também eu descobri que buscar o amor e aprovação dos outros fazia com que eu me odiasse e odiasse o meu dia a dia. Era como se eu estivesse me afogando enquanto nadava uma maratona. 

As férias começaram e com isso tudo na cabeça mas ainda sem saber o que fazer eu comecei a desenhar e a pintar. Na primeira semana eu passei três horas sentada, pintando, e descobri, surpresa, que não estava sentindo dor. Eu nunca tinha imaginado que a cura para uma dor crônica e física poderia vir tão depressa, mas em duas semanas, pintando e desenhando todo dia, eu ainda não tinha acordado ou ido dormir chorando, eu me sentia uma jovem de 22 anos normal de novo.

Ao longo daquele ano, aos poucos, fui saindo do mar de expectativas da minha família e decidindo viver com os pés no chão do meu próprio mundo. Troquei de faculdade, saí do meu estágio, escolhi outro projeto de vida. Família é um assunto delicado, e eu acho que é assim pra todos nós, em algum momento precisamos decidir até que ponto o amor oferecido é carinhoso e cuidadoso, porque quando ele se torna cobrança e fonte de infelicidade, não é mais amor , é apenas pressão, e nesse caso não deveríamos sentir medo de decepcionar. 

A arte me resgatou, e eu me sinto grata por Deus ter colocado ela na minha vida todo dia. Atualmente eu passo meus dias pintando, buscando colocar toda a sensação de paz, alegria e esperança que eu sinto nas minhas pinturas. Eu quero levar essa dádiva que eu recebi adiante, quero que meus quadros sejam lembranças do poder que viver no presente e ser feliz tem.